A noite de 10 de Fevereiro no teatro da ESMAE foi especial. Os Gambuzinos agradecem aos muitos amigos da região do Porto que nos agraciaram com a sua presença no nosso espectáculo e às generosas palavras que trocaram connosco no final!
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O Livro Vermelho de Montserrat é uma colecção manuscrita de textos devocionais do final do século XIV. Do que se conservou sobressaem 10 canções com música escrita, boa parte delas muito conhecidas dos apreciadores de música medieval. As canções foram escritas porque os peregrinos queriam cantar e dançar durante as vigílias nocturnas na igreja de Santa Maria de Montserrat (e também de dia), mas só era admissível que cantassem "melodias castas e pias", e que o fizessem com modéstia, sem perturbar quem orava no templo. Ora, respondendo àquilo que seriam provavelmente os desejos dos peregrinos que suscitaram esta presumível decisão do superior hierárquico religioso local, foi exactamente isso que nós não fizemos: com ousadia de gambuzino e a coragem de saber que 600 anos depois já não está cá quem nos puxe as orelhas, resolvemos cantar a Cuncti Simus Concanentes (Cantemos Todos Juntos) com alegria de levantar o pó do chão e rodopiar as sotainas. Foi assim mesmo que fechámos o concerto inaugural de 2018 na Casa do Xiné, na aldeia de xisto recuperada de Quintandona, a 13 de Janeiro: A canção está em latim, mas o refrão é familiar: Cuncti simus concanentes: Ave Maria. Há cerca de um ano já andávamos entretidos com o videoclipe do tema Rodrigo Martinez, a fintar dias de chuva e a sofrer de frio invernal, noites mal dormidas e até uma endoscopia. Rodrigo Martinez é um vilancico incompleto, de autor anónimo, incluído no Cancionero Musical de Palacio de Madrid, datado de finais do século XV. De letra simples, apenas podemos adivinhar que o personagem seria um tolo, ou alguém espirituoso, que se pôs a perseguir um bando de gansos que vagavam junto de um rio, ao confundi-los com vacas (e chamando-os como se fossem, com aboios e assobios). Já o Rodrigo Martinez trazido para o século XXI e interpretado pelo actor e amigo Guillem Marc, é apenas um simplório que andava triste por lhe terem fugido as vacas, mas cuja imprudência ou diminuta consciência o meteu a caçar Gambuzinos, tomando-os pelo seu gado tresmalhado. Esta história não teve bom desfecho para o garrido personagem, mas não pôs ninguém a chorar. Rodrigo Martínez a las ansares, ahe Agora que sabem a letra já não têm desculpa para falhar os ¡Ahe! nos próximos concertos! Reavivemos então a memória: As Cantigas de Santa Maria são um importante conjunto de 427 canções em galaico-português acompanhadas de notação musical manuscritas no século XIII a mando do rei Afonso X de Castela, o qual se suspeita ser o ou um dos autores da obra. O seu apreço pelo conhecimento, a literatura, as artes, a música, os jogos e as ciências valeram-lhe o cognome de O Sábio e a ele devemos em parte o prestígio do galaico-português como língua culta da época. O seu neto D. Dinis viria mais tarde seguir-lhe as pisadas como trovador e fomentador da cultura, tendo fundado a primeira universidade portuguesa, originalmente em Lisboa e depois deslocalizada para Coimbra, cidade onde a actividade gambuzínica atingiu o auge já no século XXI. Uma das cantigas mais famosas interpretadas pelos Gambuzinos é a Como poden per sas culpas, que conta a história de um homem que tinha os pés torcidos por culpa de alguma imprudência que tomou na vida. Pediu então à Santa Maria que o acudisse, prometendo oferecer uma porção de cera ao santuário de Salas. Tão depressa o disse como se viu curado, e ficou de tal forma agradecido pelo milagre da Virgem que logo foi cumprir a promessa, ágil e pelo próprio pé. Tentem lá decifrar a letra: Como pódem per sas culpas | os ómes seer contreitos, Para mais informações: http://www.cantigasdesantamaria.com/csm/166
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Outubro 2018
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